Crescimento profissional e troca de experiências motivam idosos a ingressarem no ensino superior
Crescimento profissional e troca de experiências motivam idosos a ingressarem no ensino superior

Nunca é tarde para adquirir novos conhecimentos. Nos últimos anos está cada vez mais comum a presença de idosos nas faculdades e universidades, seja pelo interesse em realizar um sonho da juventude em se formar em algum curso superior ou para manter a mente ativa e em constante aprendizado.

A afinidade com a gestão pública e o desejo de se destacar no ambiente de trabalho levou Ricardo Gomes de Oliveira, de 61 anos, a retornar para o ensino superior e cursar Tecnologia em Gestão Pública, mais de uma década depois de sua primeira graduação.

“O motivo principal para eu ter retornado é crescer no serviço público e fazer a diferença. Com isso, tentar melhorar um pouco a péssima imagem que as pessoas têm sobre ele”, afirmou.

Servidor público, Oliveira é tecnólogo em processamento de dados e atua na área de Tecnologia da Informação de um órgão em Palmas. Em março deste ano, um tempo depois de um grave problema familiar que o levou a perder o interesse em estudar e paralisar o curso, o funcionário público voltou à sala de aula, incentivado por professores e familiares.

“Minha mulher e minha filha são grandes inspirações pra mim, porque estão sempre estudando mesmo depois de formadas, fazendo especializações e pós-graduações. Além disso, os professores também foram muito compreensivos comigo e me chamaram de volta”, contou.      

O tecnólogo brinca que a primeira impressão dos colegas em seu retorno recente à faculdade foi de um certo estranhamento. “Todo mundo ficava me olhando meio assustado quando eu retornei. Quando chegava na sala de aula as pessoas achavam que eu era o professor”, lembrou, de forma divertida.

No ano em que ingressou pela primeira vez no curso, em 2009, Oliveira teve a chance de estudar na mesma turma da filha. Segundo ele, a troca de experiências com pessoas mais jovens e de realidades diferentes é um incentivo tanto para ele, que está retomando os estudos, quanto para os colegas que já estão se formando.

“Um homem de 60 anos de volta a faculdade é um incentivo para eles seguirem adiante. A vida inteira você constrói uma única visão sobre o mundo, mas quando conversa com pessoas de outras idades consegue refazer o pensamento que já tinha em relação às coisas”, comentou.

Em busca de novos conhecimentos e crescimento pessoal, o graduando conta que o movimento trazido pelo constante aprendizado é um benefício para manter seu intelecto sempre ativo. “É bom estar sempre estudando, isso exercita a mente. Resolvi voltar e terminar também por isso”, concluiu.

Mente humana

Um processo bem comum para idosos é o declínio das funções cognitivas, que faz parte do envelhecimento. No entanto, segundo a neuropsicóloga Jordanna Parreira, exercitar a mente nessa idade é o primeiro passo para recuperar a habilidade de aprendizagem e envelhecer com qualidade de vida. “Se o idoso não explorar a memória, o raciocínio, a atenção, o foco, já é natural do envelhecimento que o seu funcionamento cognitivo entre em declínio”, afirmou.

Assim como outros órgãos, o cérebro envelhece e se desgasta com o passar do tempo. Enquanto jovens têm facilidade na absorção de novos conhecimentos, esse processo é um pouco mais lento para quem já tem idade avançada.

“Podemos comparar a mente humana a um computador: quando você compra um novo ele funciona de uma forma mais rápida. Com o passar do tempo e a sobrecarga de arquivos e do sistema, ele vai perdendo essa agilidade. Assim também ocorre conosco, vamos perdendo a velocidade no processamento das informações” relacionou.

A importância de estudar nessa fase da vida, segundo a especialista, é manter a mente em atividade, o que a insere em um processo de reabilitação. “Para uma mente que se mantém em exercício, a probabilidade da perda cognitiva acontecer vai se tornando mínima, se o idoso não tiver uma doença degenerativa”, finalizou.

Universidades

Somente na Universidade Federal do Tocantins (UFT), 21 alunos da “terceira idade” estão vinculados em cursos superiores de graduação, nos câmpus de Palmas, Araguaína, Miracema, Porto Nacional e Tocantinópolis. Os cursos variam de Geografia e História a Letras e Engenharia, e envolvem formações de bacharelado e também licenciatura, aos que desejam passar conhecimentos a outros alunos como professores.

Crédito: Ana Gabriella Regis/Jornal do Tocantins.
Fonte: https://www.jornaldotocantins.com.br/editorias/vida-urbana/crescimento-profissional-e-troca-de-experi%C3%AAncias-motivam-idosos-a-ingressarem-no-ensino-superior-1.1887776